domingo, 26 de junho de 2016

LINFOMAS 2016

LINFOMAS
Dr. Jacques Tabacof é médico hematologista. Especialista no tratamento de leucemia e linfomas, trabalha no Hospital Sírio-Libanês e no Hospital Albert Einstein. 

Muitos de nós já tivemos uma íngua, especialmente quando éramos crianças. Um ferimento no pé fez aparecer um inchaço na virilha que desapareceu quando o problema foi controlado.

Na verdade, íngua é o nome popular de linfonodo ou gânglio linfático e faz parte do sistema de defesa do organismo.

Os gânglios são formados basicamente por glóbulos brancos que procuram defender a área na qual se localizam da ação deletéria de certos agentes externos. Os mais conhecidos, aqueles que podemos sentir pela apalpação quando aumentam de volume, estão situados no pescoço, nas axilas e na região inguinal, mas esses não são os únicos. Há gânglios distribuídos estrategicamente em órgãos pelo organismo inteiro.
Na imagem 1
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 por exemplo, um corte longitudinal permite ver além do coração, que está um pouco empurrado para a esquerda, o esôfago, o diafragma, o estômago e uma rede  de pequenas estruturas que acompanham esses órgãos. São os gânglios. Como registra a imagem 2
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essa rede se espalha pelo corpo todo.
Vamos agora focalizar um órgão separadamente para demonstrar quão extensa é a cadeia ganglionar. Na parte superior da imagem 3 
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 aparece o fígado, a maior glândula do corpo humano, com funções metabólicas, entre elas a secreção da bile que fica armazenada na vesícula biliar de onde é lançada para o duodeno através do ducto colédoco. A imagem mostra também o estômago e uma enorme quantidade de pequenos gânglios. Como pelo estômago e pelo intestino podem entrar bactérias, a função desses linfonodos é defender toda a área de possíveis agressões vindas do ambiente externo.
A imagem 4 
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mostra os gânglios existentes nas regiões do períneo e os inguinais (aqueles que enfartam quando as crianças se machucam).
A imagem 5 
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 permite ver o grande número linfonodos localizados nas axilas e em volta do cotovelo. Todas essas estruturas funcionam como verdadeiros quartéis avançados que se espalham pelo organismo a fim de defendê-lo da ação de agentes estranhos.

Em geral, os gânglios aumentam de tamanho quando atingidos por algum processo infeccioso. Em situações especiais, porém, eles podem crescer pela multiplicação desordenada dos glóbulos brancos existentes em seu interior. Essa proliferação anormal de linfócitos pode resultar no aparecimento dos linfomas, um tipo de câncer do sistema linfático.

DIFERENÇA ENTRE GÂNGLIO INFLAMATÓRIO E LINFOMA
 O que diferencia o linfoma, ou seja, uma proliferação desordenada dos glóbulos brancos situados nos gânglios, de uma reação infecciosa banal?

Jacques Tabacof – Os gânglios linfáticos, ou linfonodos, estão espalhados pelo corpo inteiro em posições estratégicas para defendê-lo dos agentes agressores. Por exemplo, um corte na mão pode provocar o aparecimento de uma íngua na região axilar, porque agentes externos, por exemplo as bactérias, despertam o sistema imunológico que se arma para combater o inimigo. Ele detecta o invasor indesejável e provoca uma reação inflamatória que aumenta o tamanho do gânglio e deixa a região quente, avermelhada e dolorida. Debelada a infecção, esses sintomas regridem e a pessoa se recupera. Se for uma infecção viral, os gânglios podem aparecer em diversas áreas do corpo, tais como as regiões inguinal, maxilar e cervical.

Nos linfomas, a perda desse controle na multiplicação das células, dessa interação perfeita entre os vários componentes do sistema linfático faz com que o linfócito, principal elemento do linfonodo, sofra mutação nos seus genes e comece a proliferar desordenadamente em progressão geométrica. Um linfócito gera dois, que geram quatro, oito, dezesseis e assim sucessivamente até formar uma geração de clones, ou seja, de linfócitos anormais que não mais respeitam as sinalizações do organismo para pararem de reproduzir-se, o que pode evoluir para o acometimento patológico de outros órgãos.

Portanto, a diferença entre um gânglio inflamatório e um linfoma, ou câncer linfático, está na proliferação anormal e descontrolada de glóbulos brancos que ocorre neste último caso.
 Quer dizer que, no caso de uma inflamação, as células se multiplicam até um certo ponto e param de crescer, enquanto nos linfomas perdem o controle sobre sua multiplicação. Todo gânglio que cresce é perigoso? Quais as características principais de um gânglio inflamatório e de um linfoma?

Jacques Tabacof – Os gânglios das infecções bacterianas, por exemplo, das amidalites ou das infecções dentárias, aparecem na região do pescoço, próximos ao local em que está instalada a infecção. É fácil localizá-los. São dolorosos e a área ao redor fica quente e avermelhada. Gânglios com linfomas, isto é, com câncer, em geral não doem, não deixam quente a área em volta e não se identifica nenhum foco infeccioso nas proximidades. Eles não desaparecem com o tempo, ao contrário, crescem com o passar das semanas.

Felizmente, na maior parte das vezes em que se detecta um gânglio aumentado, trata-se de um quadro infeccioso e não de câncer.
É comum examinar o pescoço ou a axila de uma pessoa e perguntar se o gânglio encontrado é residual de uma infecção que já passou ou se é um linfoma. É só avaliando todo o conjunto de sintomas que se pode definir a necessidade de prosseguir o procedimento para diagnóstico a fim de determinar exatamente o tipo de doença em questão.

 O gânglio do linfoma é normalmente mais endurecido, não dói e não tem relação nenhuma com infecções. Às vezes, cresce rápido e, às vezes, lentamente. O que explica essa diferença?

Jacques Tabacof – Na verdade, quando se fala em linfoma, estamos nos referindo a um grupo de doenças bastante complexo. Ao longo de décadas, apareceram vários sistemas de classificação dessa doença. Para dar uma idéia, o último estudo realizado pela OMS permitiu identificar e numerar mais de trinta tipos diferentes de linfomas. Dependendo do tipo de lesão genética ou da alteração que o linfócito sofreu, haverá uma doença com características bastante diferentes.

Para simplificar, clinicamente podemos definir três tipos de linfomas:
os linfomas não Hodgins de baixo grau crescem extremamente devagar, ou seja, dobram de tamanho em seis meses, um ano;
os linfomas de alto grau são de crescimento rápido e dobram de tamanho em dois ou três dias;
os linfomas de grau intermediário dobram de tamanho em um  mês, um mês e pouquinho.

Obs: Quando se examina um paciente e se levanta sua história, determinar a velocidade de crescimento dos gânglios ajuda a classificar o tipo de linfoma.

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