domingo, 26 de junho de 2016

COMO OS LINFOMAS APARECEM E POR QUE


  LINFOMAS
Como e por que aparecem os linfomas?
Jacques Tabacof – Acreditamos que parte dos linfomas esteja associada a infecções crônicas. Por exemplo, existe um tipo específico de linfoma da mucosa do estômago, o chamado linfoma MALT, em que a proliferação dos linfócitos em vez de começar pelos gânglios linfáticos, começa na mucosa estomacal e está relacionado com a infecção pela bactéria Helicobacter pylori. Essa infecção crônica produz uma reação inflamatória com multiplicação de vários linfócitos. Em algum momento, a predominância ou a mutação de um deles pode dar origem a um câncer.
 Muita gente está infectada por essa bactéria, mas são poucos os casos em que ela é considerada a causa do linfoma. Existem outros exemplos de linfoma relacionado com infecção ou com outros agentes?

Jacques Tabacof – Existem vários outros exemplos. O vírus de Epstein-Barr está relacionado ao Sarcoma de Kaposi que também pode ser causa de linfoma, assim como acontece com o retrovírus HTLV1.

Certamente, há um grupo de linfomas associados a infecções crônicas. A impressão que se tem é que o estímulo crônico, que chamamos de estimulante antigênico crônico, predispõe ao surgimento de uma mutação e de um clone de células que fogem ao controle do organismo e dão origem aos linfomas.

É possível que, além das infecções, fatores ambientais, como a radiação ionizante e alguns produtos químicos, sejam causa de linfomas. Esse tipo de câncer pode ocorrer também em pacientes imunossuprimidos, tanto nos doentes com Aids, quanto nos que receberam transplante de órgão sólido (fígado, coração, rins, etc.).

No entanto, na maioria dos casos, é impossível identificar o agente causador da doença.

 Alguém que  tenha um caso de linfoma na família corre risco maior  de desenvolver a doença|?
Jacques Tabacof – A relação entre um caso e outro é muito pequena. É raro encontrar um acúmulo de casos numa mesma família, embora haja descrições de famílias em que isso acontece. A prevalência familiar do linfoma é muito menos relevante do que a do câncer de mama ou de intestino, por exemplo.

 DIAGNÓSTICO
 Como você age quando apalpa um gânglio aumentado e suspeita que pode ser um linfoma?

Jacques Tabacof – Quando se desconfia de que pode ser um linfoma, o procedimento adequado é pedir uma biópsia que consiste na retirada de um fragmento daquele gânglio ou do tecido onde está localizada a alteração, porque os linfomas podem ocorrer no estômago, na pele, no cérebro. Esse material é analisado por um patologista a fim de verificar se as células são uniformes e muito semelhantes entre si, na verdade clones umas das outras. Para precisar mais ainda o diagnóstico, ele pode fazer colorações especiais usando técnicas imunológicas para definir se foram os linfócitos B ou os linfócitos T que se multiplicaram desordenadamente.

 Tudo isso é feito para definir a categoria das células com mais precisão…
Jacques Tabacof – São tantos os tipos de linfoma e a apresentação clínica é tão semelhante que, esmiuçando o diagnóstico, é possível identificar famílias especiais de linfomas. Atualmente, é possível estudar até a expressão gênica das células acometidas.

O levantamento de todos esses dados é importante para entender por que, por exemplo, conseguimos curar com quimioterapia apenas metade dos pacientes com um subtipo de linfoma comum chamado linfoma difuso de grandes células.

 Por que você acha que o mesmo tratamento quimioterápico pode produzir resultados tão diferentes?
Jacques Tabacof – Graças ao avanço da biologia molecular, conseguimos esmiuçar o diagnóstico e definir a expressão do gene que está doente. Embora a microscopia indique que dois desses linfomas são iguais, o nível molecular da expressão gênica permite identificar classes novas de linfoma que reagem de modo diferente ao tratamento.

A esperança é, no futuro, conseguir fazer um diagnóstico mais preciso ainda, a fim de desenvolver tratamentos biológicos específicos para pacientes com linfoma difuso das grandes células que não respondem bem à quimioterapia.

 Feita a biópsia e as colorações especiais que permitem identificar o tipo de linfoma, qual é o passo seguinte?
Jacques Tabacof – Uma vez confirmado o diagnóstico de linfoma pelo patologista, o passo seguinte é demarcar o estadiamento. O paciente é submetido a uma série de exames de imagem – tomografias, ultrassom, raios X – e a um exame físico minucioso.

 Parece que esse exame físico está meio fora de moda atualmente…
Jacques Tabacof – Aliás, o primeiro exame que se faz é o físico; só depois é que são pedidos os exames de imagem. O objetivo do estadiamento é identificar outras áreas que possam ter sido acometidas pelo linfoma.

Por que isso? Como você já explicou, o sistema linfático está distribuído pelo corpo todo, desde o dedão do pé até o cérebro. Ele é o sistema de defesa do organismo. Algumas vezes, dependendo do tipo de linfoma, somos obrigados a examinar o líquor, o estômago, os pulmões e a fazer uma biópsia da medula óssea para verificar se não existe um linfoma dentro dela.

 Muita gente confunde medula óssea com medula espinhal. Você poderia estabelecer a diferença entre uma e outra?
Jacques Tabacof – Essa confusão é clássica. A medula óssea fica dentro dos ossos e a medula espinhal faz parte do sistema nervoso e passa pelo interior das vértebras da coluna. Na medula óssea, está a fábrica das células do sangue.

Como se sabe, o sangue é formado por uma parte líquida e por células que correm dentro desse líquido. Os leucócitos, ou glóbulos brancos, encarregados da defesa geral do organismo, os glóbulos vermelhos que transportam o oxigênio, e as plaquetas – elementos que ajudam na coagulação – são fabricados dentro da medula óssea e nada têm a ver com a medula espinhal.

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